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É possível! O empreendedor que vendia felicidade

Artigos | postado em 25/01/2014

Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo do Insper

O que te faz feliz? Ler um bom livro está na minha lista de felicidades. Você sabe que isso o torna mais feliz quando sai da experiência com um pensamento mais positivo e com uma atitude mais construtiva. E o livro do Tony Hsieh cumpriu, pelo menos comigo, o que o título original em inglês promete: ‘Entregando felicidade: Um caminho para os lucros, paixão e propósito’.

Mais do que sua trajetória como empreendedor de sucesso, ele conta como encontrou a felicidade no empreendedorismo. Durante a faculdade, enquanto cursava ciência da computação em Harvard, ele abriu uma pizzaria para atender a demanda dos colegas de dormitório. Uma vez formado, foi trabalhar em uma grande corporação.

Não aguentou nem seis meses de vida corporativa. Em março de 1996, quando tinha 23 anos, fundou a LinkExchange, uma plataforma de propaganda online. Dois anos depois, ele vendeu a empresa para a Microsoft por incríveis US$ 265 milhões. E neste momento veio uma crise existencial. Era milionário e nunca mais iria precisar trabalhar. Mas isso o tornava realmente feliz? E em suas próprias palavras: “E agora? E depois? O que é sucesso? O que é felicidade? Estou em busca de quê?”. Enquanto vários empreendedores que se tornaram milionários passaram a querer ficar ainda mais ricos, Tony passou a refletir sobre o que realmente as pessoas querem e por que querem o que querem. E dos seus devaneios, ele rascunhou o quadro abaixo que aponta para o que achou que seria o objetivo principal de vida de todas as pessoas.

Mesmo as pessoas que querem ficar ainda mais ricas, perseguem esse objetivo porque acreditam que sendo mais ricas terão mais prazer e, por esta razão, serão mais felizes. Mas a busca incessante pelo prazer cria uma armadilha intrínseca de se tornar um círculo fechado e daí, um vício autodestrutivo. Percebendo isso, Tony passou a estudar a ciência da felicidade e descobriu que o prazer era apenas o primeiro estágio da felicidade. Havia ainda o estágio da felicidade associada com a paixão que é fluxo, algo mais duradouro. Muitas pessoas estão felizes pois são apaixonadas por aquilo que estão fazendo naquele momento. E ainda existia um estágio máximo associado a um propósito que é fazer parte de algo maior do que si próprio. É neste momento que a pessoa se encontra pois entende seu verdadeiro significado de vida.

Só por estas passagens, a leitura do seu livro já teria me feito mais feliz. Mas Tony foi além, ele relata de forma muito íntima, sem esconder suas dúvidas, dilemas e desafios mais elementares, como construiu sua segunda empresa, a Zappos, que se tornou uma das maiores do varejo do comércio eletrônico dos Estados Unidos até ser comprada pela Amazon (venda forçada pelos investidores) – trata-se de uma das empresas mais admiradas e está entre as melhores empresas para se trabalhar daquele país. E como o objetivo da empresa passou de ser a “maior seleção de sapatos” em 1999 para a “entregando felicidade” em 2009.

Alguns que enxergam o meio copo vazio, poderão ver hipocrisia em suas palavras que pregam a felicidade dos clientes e dos seus colaboradores. Mas os empreendedores que acreditam no meio copo cheio, encontrarão alentos para suas dúvidas existenciais e dicas criativas de gestão baseada na felicidade.

O que Tony validou na prática, o pesquisador Shawn Achor, atualmente na Wharton Business School, demonstrou cientificamente. Suas pesquisas apontam para resultados que podem ser muito relevantes para os empreendedores. Mas suas constatações defendem que a fórmula da felicidade pode e deve ser invertida. A fórmula tradicional implica em trabalhar duro para atingir uma meta e, ao chegar neste ponto, a pessoa ficaria mais feliz. Mas sua pesquisa explica que o cérebro entende que ao atingir uma meta, será necessário uma meta maior para que a felicidade seja percebida novamente. E assim, a felicidade será sempre momentânea e sempre seguida da aflição de algo ainda maior. Neste caso, a felicidade e o sucesso tendem a se distanciar com o passar do tempo, o que pode deprimir a pessoa. Ele constatou que a felicidade deve estar sempre presente e não apenas após um determinado fato.

Não é de hoje que se sabe que clientes felizes influenciam outras pessoas. Talvez hoje, pela internet, a influência positiva seja ainda maior. E com certeza, o impacto de clientes infelizes é exponencialmente maior. Mas o que Achor constatou é que colaboradores mais felizes, em média, vendem 37% a mais e são 31% mais produtivos. Também têm menores índices de turnover, realmente lidam muito melhor com situações de stress e implicam em gastos muito menores em planos de saúde. Se para as grandes empresas, esses indicadores são incontestavelmente atraentes, para as menores é a diferença entre a vida e a morte do negócio.

O que Achor defende é que “treinar seu cérebro para ser mais feliz não é tão diferente quanto treinar seu músculo em uma academia de ginástica”. Em suas pesquisas científicas e projetos com empresas, ele usa uma técnica simples. Pede para que as pessoas, durante 21 dias ininterruptos, façam uma das seguintes opções:

Anote três coisas pelas quais elas são gratas;

Escreva uma mensagem positiva para alguém nas redes sociais;

Pare, conscientemente, para meditar em sua mesa durante dois minutos;

Faça exercícios por 10 minutos;

Separe dois minutos do seu dia para escrever em um diário a experiência mais significativa que teve nas últimas 24 horas.

O pesquisador explica que as pessoas que seguiram essa “dieta da felicidade” passaram a ter uma postura mais positiva e se acharam mais felizes nos seis meses seguintes.

É natural acreditar que pessoas mais otimistas tendem a ter mais sucesso. Mas para Achor, a verdadeira explicação ocorre porque quando as pessoas estão mais felizes, seus cérebros estão mais flexíveis e ativos, permitindo muito mais interações e por esta razão, mais propensos a encontrar mais e melhores soluções. A “felicidade é fácil em tempos bons, mas é uma vantagem competitiva enorme durante os períodos difíceis” – afirma.

Portanto, empreendedor, seja feliz! E não veja o meio copo vazio. Ele estará sempre cheio. Metade líquido, metade ar!

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